Nascido na cidade de Acari, na histórica fazenda
Ingá, no dia 18 de dezembro de 1843. Seu pai foi o capitão Cipriano Bezerra
Galvão (*1809 +1899), descendente direto dos povoadores do Seridó, entre os
quais o afamado capitão-mor Galvão, fundador da cidade de Currais Novos. Sua
mãe a senhora Tereza Maria de Jesus (*1819 +1873), pertencente, igualmente, a
linhagem não menos ilustre dos desbravadores do sertão potiguar. Possuiu vários
irmãos, todos dignos e honrados nas comunidades onde se instalaram. Destaque
para o Cel. Silvino Bezerra de Araújo Galvão, chefe da cidade de Acari e
vice-governador do Rio Grande do Norte, na chapa de Pedro Velho de Albuquerque
Maranhão.
O
jovem José Bezerra, de estatura alta, forte, de constituição robusta,
entregou-se, em moço, aos esportes favoritos dos rapazes ricos e de boa família
da época: - a equitação, as vaquejadas, as lutas perigosas e emocionantes com
os barbatões bravios criados em vastos campos abertos e nas caatingas cerradas.
Todos os seus ancestrais foram fiéis ao signo da terra e da criação. Homem do campo,
José Bezerra possuiu as mais belas e importantes propriedades da época no
Seridó. Nascido na fazenda Ingá morou em seguida na fazenda Bulhão,
transferindo-se em 1880, para a Aba da Serra, seu quartel general de toda a
vida. Era o seu feudo. O território sagrado de sua ação benfazeja.
Senhor
de terras, criador e liderança política acatada José Bezerra foi ainda muito
moço apontado pelo presidente da província do Rio Grande do Norte para ser
membro da Guarda Nacional, sendo a sua primeira patente naquela organização a
de capitão da 4ª Companhia do Batalhão nº. 17 da Guarda Nacional em Acari, em
1869. Em 1877, foi convidado para ser delegado em Acari onde desenvolveu uma
ação pronta, enérgica e tão justa, que apesar da forte repressão exercida
contra os delinquentes de várias espécies, não criou inimigos. No ano de 1886
foi nomeado coronel comandante superior da Guarda Nacional da Comarca do
Jardim, em decreto assinado por sua majestade imperial Dom Pedro II. Em 1893,
foi reformado neste posto pelo decreto do então vice-presidente da República
marechal Floriano Peixoto.
Convém
destacar, que durante sua vida, o município de Currais Novos nunca foi
policiado por força governamental. Os seus homens de confiança eram os
guardiões da segurança da cidade, do município e da redondeza. Vem daí, em
grande parte, o seu prestigio, a sua força moral perante o povo bom, honesto e
simples do sertão.
Toda
essa situação, toda essa liderança exercida com moderação e prudência deu
margem para que em Currais Novos durante muito tempo a máxima “O estado sou
eu”. O município era ele. A lei era ele. O Juiz, o Delegado, o padre era ele.
Tudo isso dentro do decoro, da prudência e da polidez que o seu nome de homem
superior, inteligente, experimentado, abrangia sem dizer que estava mandando.
Foi
um católico adiantado no meio em que vivia, bem à sua maneira frequentando as
missas todos os domingos, contudo, sem se confessar. Afirmava que Deus quando
deu inteligência ao homem, foi para ele se dirigir na vida. Reconhecia e não se
cansava de dizer que a existência de Deus era um fato inegável, constituindo,
além disso, uma necessidade na vida do homem.
Desde
os tempos do Império, quando militava nas fileiras do Partido Liberal, fazendo
política em Acari com o mano Silvino, que o Cel. José Bezerra, por todas as
suas qualidades paternais e com a sabedoria de fazer política, ouvindo os seus
companheiros e dividindo com estes as responsabilidades dos cargos que viria a
exercer, que desmembrado o município de Currais Novos do de Acari que Zé
Bezerra passou a chefiá-lo, por exigência de seus amigos, e agiu com tanta
inteligência e liberalismo que a população unânime cerrou fileiras em torno de
sua pessoa.
Na
cidade de Currais Novos foi Presidente da Intendência por dois mandatos
04-04-1892 a 02-10-1892 e de 01-01-1915 a 30-12-1926, ocasião na qual criou a
primeira escola do Totoró. Estimulou a construção da estrada de automóveis do
Seridó, convidando seus familiares e amigos para adquirir ações da sociedade
anônima que estava a frente do empreendimento. Posteriormente, observando não
serem cumpridas cláusulas contratuais retirou-se com seus liderados da
sociedade.
Ainda
sobre a ação de José Bezerra na política da sua terra se faz mister citarmos as
observações de Veríssimo de Melo: Delegado de polícia em Acari e Currais Novos,
delegado escolar e intendente (Prefeito) de Currais Novos, aceitou-os tendo em
vista o desejo de trabalhar pelo progresso de terra e do povo, uma vez que
esses cargos nada rendiam e só lhe traziam aborrecimentos e desgostos.
Debrucemo-nos
agora sobre o patriarca da Aba da Serra. Sobre o chefe do clã cujas ramas
espalharam-se pelo mundo, carregando o sangue de um home fiel às suas raízes. O
coronel José Bezerra casou em 09-01-1872 com a prima Antônia Bertina de Jesus,
filha do coronel João Damasceno Pereira de Araújo, e com a qual constituiu uma
família composta de 13 filhos:
F.01
Absalão de Araújo Galvão *1873 +1894 (surdo-mudo), faleceu solteiro;
F.02
Salomão *1874;
F.03
Auta Bezerra de Araújo *1875 +1934 casada com Cel. Moisés de Oliveira Galvão
*1869 +1927, filho de Francisco de Oliveira Galvão e Francisca Alexandrina de
Oliveira;
F.04
Francisca Xavier de Araújo *1876 +1929, casada com Major Ladislau de
Vasconcelos Galvão *1874 +1943, filho de Cipriano Lopes de Vasconcelos Galvão e
Maria Marcionila de Vasconcelos;
F.05
Isabel Bezerra de Araújo *1878 +1955 casada com Francisco Braz de Albuquerque
Galvão *1873 +1938, filho de Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão e Josefa
Bezerra de Jesus;
F.06
Major Napoleão Bezerra de Araújo Galvão *1881 +1953 casado com Veneranda
Predicanda Bezerra de Melo *1886 +1983, filha de Luis Gomes de Mello Lula e
Maria Idalina da Rocha;F.09 falecido criança;
F.07
José Bezerra de Araújo Galvão Filho (Zeca) *1884 +1939 (surdo-mudo), solteiro;
F.08
Tereza Bertina de Araújo (Tetê) *1885 +1976 casada com Thomaz Salustino Gomes
de Mello *1880 +1963, filho do Cel. Manoel Salustino Gomes de Macedo e Ananília
Regina de Araújo;
F.09
Jeremias Bezerra de Araújo Galvão *1887 +1940 casado com Tereza Augusta Bezerra
de Araújo *1890 +1937, filha de Félix Pereira de Araújo e Maria Getúlia Bezerra
de Araújo Galvão. E em segundas núpcias com Maria Salomé de Vasconcelos *1890
+1970;
F.10
Antônio Bezerra de Araújo *1888 +1943 casado com Rita Alzira de Araújo *1887
+1935, filha de Manoel Salustino Gomes de Macedo e Ananília Regina de Araújo. E
em segundas núpcias com Tereza de França Bezerra *1911 +1980;
F.11
Maria *1889 +1890;
F.12
Anunciada *1890, falecida criança;
F.13
Lídia *1892, falecida em tenra idade.
Essa
família se desdobrou em inúmeros descendentes, muitos dos quais atuantes no
cenário político do Rio Grande do Norte como: Quintino Galvão (neto),
ex-prefeito de Currais Novos; José Braz (neto), ex-prefeito e líder político de
Acari; Silvio Bezerra de Melo (neto), ex-prefeito de Currais Novos; Zé Lins
(trineto) ex-deputado estadual e ex-prefeito de Currais Novos; Fábio Faria
(trineto), deputado federal pelo RN, José Bezerra de Araújo (neto), senador
pelo RN em 1965 e ex-prefeito de Currais Novos; José Bezerra de Araújo Júnior
(bisneto), senador do RN. Vale destacar os sobrinhos que atuaram na política do
RN ainda em vida de José Bezerra – Juvenal Lamartine e José Augusto Bezerra.
O
intelectual escritor José Bezerra Gomes, também era neto do velho patriarca
sertanejo. Enfim, uma estirpe com relevantes serviços prestados ao Rio Grande
do Norte e em especial a região do Seridó.
Por
fim, os últimos anos do coronel José Bezerra de Araújo Galvão foram mansos e
calmos. Idoso, atravessava as ruas de Currais Novos, alto, firme, barbas longas
e alvas. Vestindo o tradicional paletó de alpaca por sobre calça de brim
branco, firmando-se no seu cajado encastoado em prata maciça. Faleceu às 16
horas do dia 05 de fevereiro de 1926. Seu corpo foi levado pelos currais-novenses
até a divisa dos municípios, onde foi entregue aos acarienses, que o sepultaram
no cemitério local. Os seus restos mortais encontram-se, com os de sua esposa,
em ossuário numa das paredes da Matriz de Nossa Senhora da Guia. Recordando o
personagem José Bezerra, assim descreveu Assis Chateaubriand:
ra
divinamente telúrico. Exercia caciquismo naturalmente, como quem bebia água ou
tomava pinga. Lealdade, fervor das coisas públicas, firmeza de convicções, eram
os sucos das suas reservas. Imperava soberano, na latitude do Seridó, o Matusalém Riograndense
do Norte.
Foi
um autêntico patriarca. Era o tipo acabado do coronel sertanejo. O coronel José
Bezerra, como José Bernardo e Silvino Bezerra, pertenciam a essa privilegiada
aristocracia rural, dos coronéis seridoenses, a cuja ação social e política o
Rio Grande do Norte tanto deve, porque, na verdade, todos eles foram fatores
importantes de equilíbrio, disciplina e estabilidade na paisagem rude e livre
da vida sertaneja.
Dele
se podia dizer o que de um outro chefe do Seridó disse um historiador de nossa
terra: o velho José Bezerra, de espírito lépido e frase pronta, granito das
serras, ouro das minas, bondade dos invernos, doçura das noites, é o príncipe
da mais legitima e linda de todas as dinastias do mundo, a do trabalho, da
dignidade e do coração.
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