sábado, 9 de maio de 2020

MORTE DO CEL. JOSÉ BEZERRA REPERCUTIU NA IMPRENSA CARIOCA

CORONEL JOSÉ BEZERRA DE ARAÚJO GALVÃO

O jornal A Republica em sua edição de 23/02/1926 reproduziu a notícia do falecimento do cel. José Bezerra, que fora publicada na Capital Federal (Rio de Janeiro) pelo jornal O IMPARCIAL.
CORONEL JOSÉ BEZERRA


Acaba de perder a política do Rio Grande do Norte uma das figuras mais representativas, na pessoa do coronel José Bezerra, tio do sr. José Augusto, actual governador do Estado.

O saudoso extinto contava 84 annos de edade e desde muito moço exercia real influencia na região sertaneja de ua terra a que ele sempre serviu com a maior dignidade e elevado patriotismo.
Nenhuma figura, depois do irmão coronel Silvino Bezerra, gosou de tamanho prestigio no sertão do Rio Grande do Norte, como o coronel José Bezerra, a quem um syncope cardíaca, inesperadamente, abateu, no seio de sua distintíssima família, na cidade de Currais Novos,cujo progresso constitue, por assim dizer, uma obra exclusiva sua.
Grande agricultor, chefe de numerosa prole, com extraordinária capacidade de trabalho e admiravel energia de caracter, ainda agora nos 84 anos, o venerando “leader” sertanejo era uma personalidade que todos acatavam e ouviam nos momentos mais difficeis da política.
Com a sua morte, o sertão soffreu uma perda irreparável e o Partido Republicano do Rio Grande do Norte vê desaparecer um dos elementos de maior significação.
Noticiando o fallecimento do prestigioso político, enviamos á sua família, especialmente ao governador José Augusto e ao deputado Juvenal Lamartine, as expressões do nosso profundo pezar, que se estende, também ao seu digno genro Dr. Thomaz Salustino, juiz de direito da comarca de Currais Novos

JOSÉ BEZERRA DE ARAÚJO GALVÃO


Nascido na cidade de Acari, na histórica fazenda Ingá, no dia 18 de dezembro de 1843. Seu pai foi o capitão Cipriano Bezerra Galvão (*1809 +1899), descendente direto dos povoadores do Seridó, entre os quais o afamado capitão-mor Galvão, fundador da cidade de Currais Novos. Sua mãe a senhora Tereza Maria de Jesus (*1819 +1873), pertencente, igualmente, a linhagem não menos ilustre dos desbravadores do sertão potiguar. Possuiu vários irmãos, todos dignos e honrados nas comunidades onde se instalaram. Destaque para o Cel. Silvino Bezerra de Araújo Galvão, chefe da cidade de Acari e vice-governador do Rio Grande do Norte, na chapa de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão.
O jovem José Bezerra, de estatura alta, forte, de constituição robusta, entregou-se, em moço, aos esportes favoritos dos rapazes ricos e de boa família da época: - a equitação, as vaquejadas, as lutas perigosas e emocionantes com os barbatões bravios criados em vastos campos abertos e nas caatingas cerradas. Todos os seus ancestrais foram fiéis ao signo da terra e da criação. Homem do campo, José Bezerra possuiu as mais belas e importantes propriedades da época no Seridó. Nascido na fazenda Ingá morou em seguida na fazenda Bulhão, transferindo-se em 1880, para a Aba da Serra, seu quartel general de toda a vida. Era o seu feudo. O território sagrado de sua ação benfazeja.

Senhor de terras, criador e liderança política acatada José Bezerra foi ainda muito moço apontado pelo presidente da província do Rio Grande do Norte para ser membro da Guarda Nacional, sendo a sua primeira patente naquela organização a de capitão da 4ª Companhia do Batalhão nº. 17 da Guarda Nacional em Acari, em 1869. Em 1877, foi convidado para ser delegado em Acari onde desenvolveu uma ação pronta, enérgica e tão justa, que apesar da forte repressão exercida contra os delinquentes de várias espécies, não criou inimigos. No ano de 1886 foi nomeado coronel comandante superior da Guarda Nacional da Comarca do Jardim, em decreto assinado por sua majestade imperial Dom Pedro II. Em 1893, foi reformado neste posto pelo decreto do então vice-presidente da República marechal Floriano Peixoto.

Convém destacar, que durante sua vida, o município de Currais Novos nunca foi policiado por força governamental. Os seus homens de confiança eram os guardiões da segurança da cidade, do município e da redondeza. Vem daí, em grande parte, o seu prestigio, a sua força moral perante o povo bom, honesto e simples do sertão.

Toda essa situação, toda essa liderança exercida com moderação e prudência deu margem para que em Currais Novos durante muito tempo a máxima “O estado sou eu”. O município era ele. A lei era ele. O Juiz, o Delegado, o padre era ele. Tudo isso dentro do decoro, da prudência e da polidez que o seu nome de homem superior, inteligente, experimentado, abrangia sem dizer que estava mandando.

Foi um católico adiantado no meio em que vivia, bem à sua maneira frequentando as missas todos os domingos, contudo, sem se confessar. Afirmava que Deus quando deu inteligência ao homem, foi para ele se dirigir na vida. Reconhecia e não se cansava de dizer que a existência de Deus era um fato inegável, constituindo, além disso, uma necessidade na vida do homem.

Desde os tempos do Império, quando militava nas fileiras do Partido Liberal, fazendo política em Acari com o mano Silvino, que o Cel. José Bezerra, por todas as suas qualidades paternais e com a sabedoria de fazer política, ouvindo os seus companheiros e dividindo com estes as responsabilidades dos cargos que viria a exercer, que desmembrado o município de Currais Novos do de Acari que Zé Bezerra passou a chefiá-lo, por exigência de seus amigos, e agiu com tanta inteligência e liberalismo que a população unânime cerrou fileiras em torno de sua pessoa.

Na cidade de Currais Novos foi Presidente da Intendência por dois mandatos 04-04-1892 a 02-10-1892 e de 01-01-1915 a 30-12-1926, ocasião na qual criou a primeira escola do Totoró. Estimulou a construção da estrada de automóveis do Seridó, convidando seus familiares e amigos para adquirir ações da sociedade anônima que estava a frente do empreendimento. Posteriormente, observando não serem cumpridas cláusulas contratuais retirou-se com seus liderados da sociedade.

Ainda sobre a ação de José Bezerra na política da sua terra se faz mister citarmos as observações de Veríssimo de Melo: Delegado de polícia em Acari e Currais Novos, delegado escolar e intendente (Prefeito) de Currais Novos, aceitou-os tendo em vista o desejo de trabalhar pelo progresso de terra e do povo, uma vez que esses cargos nada rendiam e só lhe traziam aborrecimentos e desgostos.

Debrucemo-nos agora sobre o patriarca da Aba da Serra. Sobre o chefe do clã cujas ramas espalharam-se pelo mundo, carregando o sangue de um home fiel às suas raízes. O coronel José Bezerra casou em 09-01-1872 com a prima Antônia Bertina de Jesus, filha do coronel João Damasceno Pereira de Araújo, e com a qual constituiu uma família composta de 13 filhos:

F.01 Absalão de Araújo Galvão *1873 +1894 (surdo-mudo), faleceu solteiro;

F.02 Salomão *1874;

F.03 Auta Bezerra de Araújo *1875 +1934 casada com Cel. Moisés de Oliveira Galvão *1869 +1927, filho de Francisco de Oliveira Galvão e Francisca Alexandrina de Oliveira;

F.04 Francisca Xavier de Araújo *1876 +1929, casada com Major Ladislau de Vasconcelos Galvão *1874 +1943, filho de Cipriano Lopes de Vasconcelos Galvão e Maria Marcionila de Vasconcelos;

F.05 Isabel Bezerra de Araújo *1878 +1955 casada com Francisco Braz de Albuquerque Galvão *1873 +1938, filho de Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão e Josefa Bezerra de Jesus;

F.06 Major Napoleão Bezerra de Araújo Galvão *1881 +1953 casado com Veneranda Predicanda Bezerra de Melo *1886 +1983, filha de Luis Gomes de Mello Lula e Maria Idalina da Rocha;F.09 falecido criança;

F.07 José Bezerra de Araújo Galvão Filho (Zeca) *1884 +1939 (surdo-mudo), solteiro;
F.08 Tereza Bertina de Araújo (Tetê) *1885 +1976 casada com Thomaz Salustino Gomes de Mello *1880 +1963, filho do Cel. Manoel Salustino Gomes de Macedo e Ananília Regina de Araújo;

F.09 Jeremias Bezerra de Araújo Galvão *1887 +1940 casado com Tereza Augusta Bezerra de Araújo *1890 +1937, filha de Félix Pereira de Araújo e Maria Getúlia Bezerra de Araújo Galvão. E em segundas núpcias com Maria Salomé de Vasconcelos *1890 +1970;

F.10 Antônio Bezerra de Araújo *1888 +1943 casado com Rita Alzira de Araújo *1887 +1935, filha de Manoel Salustino Gomes de Macedo e Ananília Regina de Araújo. E em segundas núpcias com Tereza de França Bezerra *1911 +1980;

F.11 Maria *1889 +1890;

F.12 Anunciada *1890, falecida criança;

F.13 Lídia *1892, falecida em tenra idade.

Essa família se desdobrou em inúmeros descendentes, muitos dos quais atuantes no cenário político do Rio Grande do Norte como: Quintino Galvão (neto), ex-prefeito de Currais Novos; José Braz (neto), ex-prefeito e líder político de Acari; Silvio Bezerra de Melo (neto), ex-prefeito de Currais Novos; Zé Lins (trineto) ex-deputado estadual e ex-prefeito de Currais Novos; Fábio Faria (trineto), deputado federal pelo RN, José Bezerra de Araújo (neto), senador pelo RN em 1965 e ex-prefeito de Currais Novos; José Bezerra de Araújo Júnior (bisneto), senador do RN. Vale destacar os sobrinhos que atuaram na política do RN ainda em vida de José Bezerra – Juvenal Lamartine e José Augusto Bezerra.

O intelectual escritor José Bezerra Gomes, também era neto do velho patriarca sertanejo. Enfim, uma estirpe com relevantes serviços prestados ao Rio Grande do Norte e em especial a região do Seridó.

Por fim, os últimos anos do coronel José Bezerra de Araújo Galvão foram mansos e calmos. Idoso, atravessava as ruas de Currais Novos, alto, firme, barbas longas e alvas. Vestindo o tradicional paletó de alpaca por sobre calça de brim branco, firmando-se no seu cajado encastoado em prata maciça. Faleceu às 16 horas do dia 05 de fevereiro de 1926. Seu corpo foi levado pelos currais-novenses até a divisa dos municípios, onde foi entregue aos acarienses, que o sepultaram no cemitério local. Os seus restos mortais encontram-se, com os de sua esposa, em ossuário numa das paredes da Matriz de Nossa Senhora da Guia. Recordando o personagem José Bezerra, assim descreveu Assis Chateaubriand:
ra divinamente telúrico. Exercia caciquismo naturalmente, como quem bebia água ou tomava pinga. Lealdade, fervor das coisas públicas, firmeza de convicções, eram os sucos das suas reservas. Imperava soberano, na latitude do Seridó, o Matusalém Riograndense do Norte.

Foi um autêntico patriarca. Era o tipo acabado do coronel sertanejo. O coronel José Bezerra, como José Bernardo e Silvino Bezerra, pertenciam a essa privilegiada aristocracia rural, dos coronéis seridoenses, a cuja ação social e política o Rio Grande do Norte tanto deve, porque, na verdade, todos eles foram fatores importantes de equilíbrio, disciplina e estabilidade na paisagem rude e livre da vida sertaneja.


Dele se podia dizer o que de um outro chefe do Seridó disse um historiador de nossa terra: o velho José Bezerra, de espírito lépido e frase pronta, granito das serras, ouro das minas, bondade dos invernos, doçura das noites, é o príncipe da mais legitima e linda de todas as dinastias do mundo, a do trabalho, da dignidade e do coração.
FONTE – HISTÓRIA E GENEALOGIA, DE ANDERSON TAVARES DE LYRA(FOTO ACIMA)

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